Demiti-me do estágio. Decerto que o fato tomou proporções maiores que eu imaginava, mas tudo muito digno de uma drama queen, como eu. Desafiei meu chefe, forcei-o a tomar uma decisão inteligente e rápida, mas ele com seu orgulho impermeável e falta de coragem para assumir responsabilidades pelos próprios erros, simplesmente contentou-se em deixar-me ir, ainda que minha permanência fosse imprescindível. Virei as costas e saí, o rosto queimando pelo calor do abrasador sol das 13h30 e pela raiva. Como a falta de bom senso carregada de boas doses de petulância e ironia me irritavam.
Agora, pois deixemos as palavras elaboradas de lado e vamos aos fatos.
Estava eu sem trabalhar há quase um ano, quando resolvir procurar estágio. Não queria um emprego, pois tomaria todo o meu tempo e eu teria de tê-lo em parte disponível para cuidar da monografia que batia à porta da minha vida acadêmica. Semanas procurando, não achava nada que prestasse até que uma seleção de estágio numa loja de eletrodomésticos apareceu. Era comércio, eu não morria de amores pela idéia, mas pela bolsa que pagavam e pelas funções que eu iria cumprir até que valia a pena. E com o atenuante de eu não chegar nem perto da área das vendas. A única desvantagem era o horário intermediário, pois eu estava lá justamente para substituir duas funcionárias que entravam em período de licensa maternidade, e como o horário de almoço é sempre o que tem menos funcionários na loja, ficou combinado (?) que eu trabalharia das 10 hs ás 16 hs. Eu até estava me acostumando a não almoçar em casa, na correria mesmo e estava me dando bem com todo mundo. O gerente era do tipo engraçado, tirando brincadeiras com o pessoal e fazendo piadas com as coisas. Estava tudo bem e eu levaria assim até o fim do contrato, até que ele, o gerente foi mandado para a outra loja e da outra loja veio o outro gerente. Esse outro gerente começou a implicar com meu horário de almoço e cismou que eu tinha que almoçar às 10h30 porque era a hora que tinha três pessoas no setor, e no horário de 11hs às 15hs só havia duas: eu e a minha colega que trabalha no caixa. Daí que ele mudou até meu horário para 9hs às 15hs pra que eu cumprisse a ordem (ou seria idéia de jerico?) dele. Não cumpri. Ficava esperando ele sair para o almoço, que era entre 11hs e 13hs para comer. Até que um dia ele chegou mais cedo e viu. Ele ficou calado e eu também. Até que na reunião que houve uns dias depois ele chamou minha atenção para o fato de eu não estar cumprindo a ordem (ops, idéoa de jerico) dele. Discuti e argumentei que não dava certo, que 10h30 não era hora de ninguém almoçar e que ele não me dava escolha, que estava impondo coisas, que eu nunca saía do setor para almoçar quando tinha cliente para atender, que não era porque eu estava tirando o horário de almoço das meninas que eu não podia almoçar e etc, mas não adiantou. Fui levando do jeito que deu mais uma semana que restava pra terminar o mês e pra eu poder receber meu dinheiro. Não almoçava mais. Levava um lanchinho e só. Daí que ontém cheguei nele e falei que ele resolvesse minha situação pois estava trabalhando há mais de uma semana sem almoçar e que não ia dar mais certo. Ele usou um tom irônico perguntando se eu queria almoçar naquela hora e disse também que ia analisar. Pô, o cara não teve a decência de usar o bom senso e pensar que não tinha cabimento alguém trabalhar sem comer e ele me diz que vai analisar?! Disse que ele tomasse a decisão dele naquele instante pois eu já tinha tomado a minha e ele disse que ia analisar, que não tinha como tomar a decisão naquela hora. Disse a ele que resolvesse como ia ficar, do contrário não tinha como ficar. Ele usou o mesmo tom irônico de antes ao perguntar se eu iria embora naquela hora. Disse que sim, que iria pois se ele não sabia como ficaria não tinha mais o que fazer ali. Ele me virou as costas e eu também. O cara é um gerente, e não sabe tomar uma decisão inteligente e rápida? Não é sempre que se tem tempo para tomar uma decisão, não importa a situação, e como boa estudante de Administração, essa lição eu aprendi bem. E não me parecia muito difícil escolher se uma pessoa podia ou não almoçar. Era só um mínimo de bom senso, mas nem isso ele tinha. Ainda voltei para o setor para despachar um cliente, e aí que minha colega disse que ia falar com ele; disse que ela não fosse ameaçando me levantar dali e deixar o cliente sozinho, mas mesmo assim ela foi e eu cumpri minha ameaça, levantei-me e fui pegar minhas coisas no armário da cozinha. Ela falou por mim, ainda que a meu contragosto, e ele entrou na cozinha, me viu arrumando as coisas e não falou nada. Fui embora sem dar tchau, espumando de raiva daquele idiota e mais tarde fui saber pela colega que ele entrara na cozinha para falar alguma coisa, mas no fim o orgulho dele calou a própria boca e ele preferiu desfalcar o quadro de pessoal da outra loja, chamando uma funcionária de lá pra ficar no meu lugar. O que eu deveria fazer? Por acaso me lascar por quem não está nem aí comigo? dar minha saúde por uma loja que não faz nada por mim? Ele não pensou sequer nas funcionárias do setor, cujo trabalho que já não é pouco aumentaria ainda mais sem ter eu lá pra ajudá-las, e que elas teriam até que trabalhar em horário de almoço pra dar conta de tudo e sem receber hora extra. Ele só se mostrou ser uma pessa que sofre de uma crônica falta de habilidade para assumir responsabilidade pelos próprios atos e conseqüentes erros. Sei que ninguém é insubstituível, mas sei que enquanto as meninas não voltarem da licensa maternidade eu vou fazer falta sim. Nunca fui de quebrar contrato, a tradição da minha família é se comportar de maneira responsável e honrar os compromissos, e eu me vi na situação de abandonar o trabalho, largar tudo e dar as costas. Não me sinto nem um pouco culpada, pois quem não tem direitos não tem obrigações, e eu não tinha o direito básico de realizar uma refeição? Sinto-me aliviada e sei que fiz a coisa certa. Agora vou curtir o resto da semana de folga e segunda vou procurar algo melhor, afinal navegar é preciso e dinheiro também.
2 comentários:
aRREBENTA MULÉEEE!!!
E aí Seo (faz tempo que não venho aqui!) Minha vida tá uma correria. Essas relações que se cria no trabalho sempre dão pango pra manga. Imagina aí, CINCO dias por semana convivendo HORAS por dia. Muitos 'sentimentos' digamos, se misturam. e nessas horas que a gente pensa: Cadê o Recursos Humanos, meu Deus!
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